quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O hospital. Só o começo. Não sei se terminarei.

Telefones chamando. Meus telefones nunca chamam. Uma, duas, três vezes. Mãe, tia, tia. O patriarca está mal. Parece que dessa vez é sério. Lembro-me de umas cinco vezes em que pareceu ser sério também. Com o patriarca sempre é sério. Também, os hospitais têm uma austeridade, e só o fato de alguém ir pra eles constitui uma seriedade incomum. E toda a família se enche de consternação.
21h30min. Tomar banho correndo, jantar correndo, arrumar correndo. Apenas uma borrifada de Jean Paul Gaultier, porque não morri ainda, e não é porque ia a um hospital que podia negligenciar isso. Pretendia ir de bike, mas por alguma razão egoísta, a família forçou-me a aceitar uma carona no carro dos primos, "bike pode ser perigoso a noite". Hospital. Patriarca. E mais consternação. Tumulto. Agitação. Espera. O neto mais vagabundo antecipa-se à sugestão familiar sobre quem passaria a noite com o patriarca enfermo e se oferece, para consenso e felicidade de todos.
23h. Um quarto quente com duas janelas que, contra todo bom senso, permaneciam fechadas. Quatro camas de ferro, com engrenagens para que possam elevar ou deixar estendidos os que se deitam sobre elas. Dois enfermos e eu, que insistiria, por honra e brio, estar desperto durante as próximas... quantas horas me aguardariam sorrindo pra mim com toda a ironia de que eram capazes? Quantas? E um tempo que nunca passaria. E pensamentos que nunca seriam suficientes para enchê-lo. E um calor que tornaria tudo mais miserável do que era. E uma criança chorando na enfermaria da frente. Crianças sempre me perseguem, sempre chorando, no mais improvável lugar que eu vá, elas estão. Sabia que se eu dormisse por vinte minutos o patriarca observaria com uma lucidez incomum aqui, mencionando à família "ah, o neto, o neto dormiu e roncou a noite toda!" Eu certamente não desejaria ser lembrado pela "noite toda" que dormi.
Depois de 12 horas, casa. Sono de dia e sono de noite. Desta vez a tia passaria a noite, desperta, numa cadeira de fios de plástico que vão cedendo ao peso do corpo, deixando-o escapar até quase encontrar o chão. Era o conforto que o hospital podia oferecer.
Manhã seguinte, 7h. Banho. Coragem. Paciência. Hospital. Calor. Tédio. Impaciência.
17h a tia decide me ajudar, oferecendo-se a me substituir por algum tempo para que eu fosse em casa tomar um banho e então... voltar! Voltar para ali onde ninguém desejava estar, onde o tempo se arrastava mais lentamente do que a velocidade com que as coisas se mexem quando estão sob a água. Nesta altura da história, nem o patriarca aturava tanto calor e tanto não ter o que fazer.

Um comentário:

  1. Querido, seu belo, porém triste texto explica sua ausência por estes dias no MSN, espero que tudo esteja bem, sinto sua falta e melhoras para seu "Patriarca".

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