terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma brisa

[Factory in North London, Lucian Freud]
É necessário, antes de tudo, autoconhecimento para um homem saber se é essencialmente feliz ou infeliz, e sabedoria para ele conseguir confessar - sem mal-estar - diante de sua própria consciência e da dos outros homens que ele é infeliz. Sabedoria significa aqui, portanto, também coragem. É preciso coragem para transcender o constrangimento que o imperativo “seja feliz” causa ao homem que decidiu olhar para dentro de si e fazer a mais pesada das confissões: a de que não é feliz.

Mas disso não decorre uma mudança existencial que seja oposta à do homem feliz. O homem infeliz, tanto como o feliz, continua a existir por toda a parte. Ambos vivem. E eu diria até que as pessoas, desatentas como são a essas coisas essenciais e concentradas apenas no que é frívolo e sem importância, na maior parte do tempo são incapazes de distinguir entre um e outro. Portanto, confessar que não se é feliz ou que se é triste não significa muita coisa além da confissão mesma. A tristeza só é um problema sério e só assusta o homem que não se conhece bem.

Para o homem que se conhece mais do que é habitual, a tristeza não é o problema. O problema é uma brisa gelada que às vezes vem soprar no espírito do homem que pensa e ele sente então um frio que é a solidão mais escura e desoladora que um coração é capaz de sentir sem se congelar. A brisa tem uma duração que é sua e não do homem; depois ela simplesmente sai para ir soprar noutros espíritos também pensantes, sem razão, do mesmo modo que chegou. E em toda parte que sopre, sentem esse frio terrível que faz tudo parar por um instante. Perto dele a tristeza é um cálido beijo que um espírito forte não recusa receber.

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