Aquele furor em plena noite, aquela necessidade de uma última explicação consigo mesmo, com os elementos. O sangue, de súbito, se anima. Treme-se; nos levantamos, saímos, nos repetimos que não existe mais razão de tergiversar, de diferir: desta vez dará certo. Não apenas lá fora, uma imperceptível aquietação. Caminha-se invadido pelo gesto que se está pronto a cumprir, pela missão que nos arrogamos. Um aceno de exultação substitui-se ao furor quando nos dizemos que chegamos ao término, que o futuro se reduz, finalmente, a alguns minutos, no máximo a uma hora, e que se decretou, por autoridade própria, suspender o conjunto dos instantes. Vem depois a impressão tranqüilizadora que a ausência do próximo inspira. Dormem todos. Como abandonar um mundo onde ainda é possível estar a sós? E daquela noite, que deveria ter sido a última, não conseguimos mais separar-nos.
Emil Cioran. Le mauvais démiurge
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