quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Autobiografia x futebol

Num dos encontros da disciplina de autorrepresentação que estou fazendo nesse semestre, o professor perguntou quem já tinha escrito uma autobiografia.

 
- Já escrevi ou estou escrevendo. Comecei com dezenove anos, na metade do curso de filosofia que eu então fazia. Conhecera Nietzsche, Montagne, Camus que escreviam sobre seus mundos e filosofavam ao mesmo tempo em que falavam de si mesmos. Achava e acho uma delícia essa biografia que não se faz da mera narração de gestos cotidianos e banais, mas vem encaixada no meio da filosofia ou da boa literatura. Sou um filósofo e filósofos podem ser densos, sérios, austeros e escrever biografias aos dezenove, como eu. Acho que há uma graça em ser romântico, em ser romântico hoje. Escrevi a primeira parte de minha biografia performativizando inconscientemente Montagne ou Nietzsche, mas pensando conscientemente que eu era um filósofo e que podia me levar, sim, à sério e escrever com esse mesmo espírito de seriedade. A última vez que reli as 40 páginas escritas nessa época foi há seis meses e não me constrangi. O estilo é pesado e sem humor, mas aceitável pra um garoto que só começava a aprender a pensar e a escrever. Não, nunca fui realmente um prodígio, nem prematuro, apesar de ser velho desde os quinze.

 
Não disse, porém, nada disso na sala. Não surpreendi o professor, que logo e antes que pudesse receber qualquer resposta, emendou levemente – vocês têm 23 anos de idade! Quem é que quer escrever biografia com essa idade! Vocês querem ver futebol na TV! O clima era leve e galhofeiro, inoportuno para um filósofo e sua seriedade performativizada.

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