16.10.12
Ontem um aperto no coração como há muito não sentido me tirou o sono. O retorno à Alemanha, uma falta de ar tão inédita como detestável e um aperto no coração me dizendo que eu só me iludia, que não ia conseguir nunca. Era bobagem, era vão. Pelo amanhecer, tentei ser racional e entender a naturalidade de um pensamento depressivo assim surgir em meio à aflição causada por essa nova doença – uma bronquite diagnosticada ontem, que por duas noites me impediu dormir, mas não a noite de ontem, que eu já podia respirar melhor e por melancolia é que não dormi – como se tal conclusão sombria fosse uma espécie de atualização mental para corresponder ao débil estado físico, mente e corpo andando juntos, andando mal. Pela manhã, com o sol aquecendo agradavelmente meu rosto enquanto comia Müsli antes de deixar a casa, tentei me convencer de que tanto esse modo de ser da mente como o do corpo passaria.
[...]
Acabo de sair da primeira aula do semestre de inverno, meu terceiro semestre na universidade, aula do curso de teatrologia. Acabo de deixar a sala habitado por uma paralisante sensação de desilusão e impotência, irmã severa e terrível do aperto que acometeu meu peito ontem. Felizmente seu ápice já passou. Inconscientemente eu devia saber que escrever ajudaria a dissolvê-la, e talvez por isso mesmo foi que cega e autonomamente caminhei até essa mesa onde nunca antes me sentara e antes que eu pudesse me justificar o que tinha vindo fazer aqui, já sacara da mochila a agenda e começara a escrever.
O que pensei há bem poucos minutos e que causou um amargor na garganta foi que eu não podia nem nunca poderia vencer esse país, esse povo, esse idioma. E não gosto de dizer isso, uma superstição aprendida com a família e que me persegue mesmo hoje: dizer algo negativo teria o poder de atrair coisas negativas. Ou tentando racionalizar essa superstição, esse gesto de proferir uma conclusão pessimista significaria proferir juntamente que a conclusão terá de permanecer assim, que não poderá ser repensada nem alterada depois. Mas num dia como hoje que se segue após uma noite como a de ontem não preciso me poupar dos pensamentos mais secos.
Estou no terceiro semestre e talvez três das 200 pessoas com quem convivo no campus não fingem que sou invisível e se dignam a me dizer bom dia. Hoje entendi bem pouco acerca das decisões organizatórias do semestre: provas, grupos que se deverão formar, dramas a serem lidos, trabalhos a serem escritos. A ansiedade: a quem desses que não me enxergam me humilhar perguntando sobre tudo o que não entendi?
Confesso que a univerdade é um prato cheio pra eu exercitar algo que talvez seja o que aprendi com mais sucesso com minha família: a me vitimizar. Aqui estou a todo o tempo encontrando motivos tão reais e palpáveis que, embora eu deseje ser imparcial e combater essa minha abominável mania, é difícil afirmar que eles não existem.
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