sábado, 15 de dezembro de 2012

A imagem, de novo

Na última terça saiu um texto meu em um dos dois jornais sérios que existem em Goiás, na verdade, no mais respeitado deles. Um texto que fora escrito algumas semanas antes e publicado aqui mesmo:
 
 
O interessante é que eu já publicara algumas vezes antes neste mesmo jornal, mas os 15 minutos de fama continuam funcionando. Desta vez, tive a impressão, mais ainda. Após algumas conversas, entenderia que tanta fama se devia certamente à minha foto. Foi o primeiro dos meus textos com uma imagem minha do lado. Você tem de me enviar uma foto sua, me escreveu a editora. Também é interessante que justo neste texto onde escrevo sobre a onipresença da imagem, e pela primeira vez, há uma minha.
 
A avó de um amigo, também minha amiga, alguém adorável mas incapaz de acompanhar mesmo os rasos lances abstrativos do meu texto, sentou-se no sofá - assim me narrou o amigo - e, corajosa que é, leu do início ao fim. Depois um silêncio, a intuição da imperativa necessidade de ter de proferir um comentário, mínimo que seja, e novamente a imagem: "Mas é ele mesmo, a foto dele tá aqui!"
 
Um dia depois, converso com a mãe ao telefone. Está orgulhosa porque um artigo meu saiu no jornal na véspera de seu aniversário. É como um presente, me diz, e conta-me que a tia fez um círculo de leitura com ela e a avó e que leu para as duas. Naturalmente ninguém entendeu o texto, mas eu não esperava por isso. Pensavam, porém, entender muito bem que só pessoas muito importantes tinham a chance de expor sua voz num jornal, e que se eu a tive, devia ser importante, e dizia a verdade, porque só ela era impressa. Bom pra mim que pensassem assim. Percebi na conversa com a mãe que um buchicho tinha percorrido a família, todos curiosos para ler e ver o que afinal eu tinha dito, não diretamente a eles, de modo nenhum a eles, mas ao mundo, à massa amorfa de pessoas estranhas, como quem faz alguma espécie de terapia entregando valiosíssimos segredos a ouvidos de estranhos que sentam do seu lado no ônibus certo de que jamais voltará a encontrar a pessoa. Ou a família desejava simplesmente ver o que eu era e o que eu pensava longe deles.
 
Lembrei a mãe de outros artigos que já publicara, tentando entender porque faziam tanto barulho. Um curto silêncio na linha, como que puxando a memória, mas ela que sempre se lembra de tudo que ocorre na família, estranhamente precisou que eu a ajudasse. E depois soltou que agora era diferente, eu não estava mais lá e mesmo assim conseguia estar, como se meu poder fosse muito amplo ao ponto de eu poder expandi-lo daqui até Goiânia, mas isso fui eu que pensei. E tem uma foto sua do lado do texto, ela revelou finalmente.
 


2 comentários:

  1. RÁ!! Tu é o correspondente da Alemanhaaa! Bom... parabéns? Sim, parabéns, mas sabemos o quanto existe de cínico nisso. Acho baixíssima a qualidade desse jornal, mas ambos sabemos que esta é uma vitória simbólica: um bom texto, de um bom goiano, que só consegue sua visibilidade por estar fora do território. É, parabéns. Mas esse jornal continua ideal para cães fazerem cocô em cima (putz, constrangido, por elogiar/desfazer ao mesmo tempo... mas estou certo que vc entende o que eu digo!)

    ps: muito bom voltar ao seu blog depois de tanto tempo ausente...

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  2. ps: pois é, as imagens... vários textos já publicados, mas o efeito alvoroço só veio com o avatar do lado. Tenho pensado em cunhar um conceito pro homem contemporâneo: << homo imago >> , mas é muita pretensão querer fazer isso. Talvez, se alguém não fizer isso antes de mim, no dia em que eu tiver as credenciais necessárias para alguém me dar crédito (legitimação social e a sombra fora dos holofotes, aff), eu tenha o topete de fazer isso.

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