Terça-feira
Assisto
na faculdade ao filme “Life in a day”, reunião de centenas de
cenas soltas filmadas por usuários do Youtube, selecionadas e
editadas por Kevin Mcdonald e mais de 15 outros diretores. Descubro,
não com surpresa, que sou dos poucos que não viu o badaladíssimo
filme. O projeto “Life in a day” foi idealizado pelo diretor
inglês Ridley Scott (Blade Runner e Telma & Louise)
em parceria com o Youtube. Milhares de usuários de supostamente todo
o globo enviaram suas filmagens realizadas no dia 24 de julho de
2010, o dia escolhido para realizar um retrato da vida neste nosso
planeta em um único dia.
Não é do meu interesse falar da
complexidade ou dos imponentes números envolvidos na realização
dessa obra. Muitíssimo já foi dito e está aí para quem o desejar.
Para mim, com minhas atuais e relativamente sérias pretensões
cinematográficas – que me fazem buscar sempre por um ensinamento
em qualquer filme a que assista – restou a lição de que áudio e
edição são tudo. Percebo – como espectador de cinema – como é
mais fácil aceitar imagens supostamente caseiras, indevidamente
iluminadas e movimentos deselegantes de câmera e inclusive ler esse
“visual falho” como escolha estético-artística, mas um “áudio
errado” dificilmente poderá passar por escolha artística, e no
geral será considerado um erro, e a obra no final e em sua
totalidade, considerada em alguma medida amadora. Isso posso dizer
também com base em minhas atuais experiências como documentarista
de férias que usa câmera HD, mas sem um bom microfone: no final,
meus filmes sempre apresentam certo desequilíbrio entre a limpeza
visual do HD e o áudio rasteiro.
No caso de “Life in a day”,
muitas cenas foram filmadas em HD e outras tantas apresentavam
movimentos bruscos de câmera e composições ou enquadramentos pouco
refletidos. Independente de seu aspecto visual, pra mim o que faz o
filme ser contemplado como a obra profissional bem finalizada que de
fato é – centenas de horas certamente foram ocupadas com
tratamento do material original, inclusive visual, e edição – é
o áudio límpido e bem editado. A decisão dos diretores por ocupar
a película constantemente com algum tipo de música sempre
justaposta ao áudio cru da filmagem original – deixando apenas em
raros momentos o som cru e puro das cenas exibidas – causa a
impressão de estarmos diante de uma obra profissional, de um filme
comercial feito para emocionar, muito diferente de filmes silenciosos
e contemplativos que só por admiráveis espectadores podem ser
vencidos.
Outro
aspecto que desejo comentar é o referente à mensagem da obra. Com
raros exemplos de cenas que considerei bonitas por serem ao mesmo
tempo simples, doces e interessantes no sentido de não comunicar uma
mensagem de modo explícito – como a do pai asiático que inicia o
seu dia com seu filho de cerca de cinco anos numa dessas casas-cubos
e o público contempla as atividades banais que os dois fazem
imediatamente após o despertar do filho até o momento em que
acendem um incenso à esposa e mãe falecida, numa única tomada
observamos a criança acordar no sofá, ir ao banheiro, desenhar
alguma coisa e voltar para a mesma sala onde instantes antes acordou
para acender o incenso com o pai e depositá-lo ao lado da fotografia
da mãe – a imensa maioria das cenas me pareceu demasiado
consciente da necessidade de veicular algum pensamento ou mensagem, e
isso do modo mais fácil e explícito possível: pela fala. Não me
surpreende que os diretores também optassem por incluir aos montes
tais cenas: facilita também a eles transmitir a mensagem de sua obra
– que a vida é grande e bela, seja como for, aconteça o que
acontecer, ou mesmo quando nada acontece, como afirma a garota
norteamericana que fecha a película com um monólogo sintetizador.
Tudo bem, não tenho a priori nada contra essa mensagem, mas
apenas quando vem de uma obra que se desejou e calculou para ser
intencionalmente fofa e incitadora de suspiros, o céu da minha boa
vontade se enegrece.
Parece-me que essa mensagem com base
mística e, além de tudo, difundida assim, desse jeito
fácil e fofo, só pode ser aceita por quem já compartilha de
antemão o mesmo germe místico que usa para justificar rasteiramente
a beleza da vida e que só necessita de uma força externa com
autoridade, com a autoridade de um filme neste caso, para permiti-lo
brotar livremente. Como nenhum germe dessa espécie me habita, tanto
mais difícil acolher a mensagem final do filme sem antes me irritar
com a facilidade e os clichês que ele percorre para exprimi-la.
Quinta-feira
Outro
filme místico, dessa vez em casa: “The tree of life”. Suspeito
que possuo algum magnetismo repulsor inconsciente que me proibiu
assistir a essa película, tornando-me assim quase o único homem da
Terra – entre aqueles que são espectadores de cinema – que não
a assistiu. (Alô! Alguém Comigo?) Na última quinta-feira, porém,
saí de minha solidão e me uni a todos os outros homens deste
planeta azul. Interessante como mesmo tendo lido nada acerca do
filme, mas apenas visto o cartaz e sabido que Pitt o protagonizava
bastou para que eu não buscasse vê-lo, como se soubesse que não
fosse pra mim. O problema nem foi o Pitt, todo sério e compenetrado
no seu papel de pai diabólico e sensível (sic). Para resumir, foi
antes, mais uma vez, como em “Life in a day”, a repisada mensagem
acerca da suntuosidade da vida e o modo raso, kitsch e grandiloqüente
com que ela é aqui comunicada.
Um
filme para espíritas, pensei lá pelo meio das cenas que
reconstituíam o surgimento da Terra e os primeiros milhões de anos
da história do nosso planeta, dinossauros inclusos, sob a
musicalidade emocionadíssima de alguma ária. Uma estética e uma
calma irritante que uma ex-colega espírita minha adoraria. Posso
imaginá-la suspirando de emoção e deleite com o filme por
descobrir a sintonia entre ele e suas próprias certezas acerca da
vida e do universo. Pergunto-me se Terrence Malick, seu diretor, é
um fã de Allan Kardec. Seu filme, tanto como os seguidores de
Kardec, é carregado de uma irrepreensível e jubilosa sabedoria que
confere lógica, sentido e vontade a todos os eventos que ocorrem no
universo e que, na época de minha amizade com a espírita,
desconcertava-me quando eu sozinho comparava sua sabedoria com o
escuro mar melancólico em que eu habitava por crer que tudo fosse
absurdo, acidental e desnecessário. Hoje mesmo que eu permaneça
convicto disso, meu mar é menos negro e a sabedoria espírita, longe
de me desconcertar, parece-me uma fuga eficiente entre tantas que não
fui capaz de escolher por ser um homem corajoso. Não são pra mim,
sou dos ares rarefeitos, como diria meu bom e saudoso Nietzsche.
Voltando
ao filme do Malick, penso que essencialmente não se difere de filmes
brasileiros apologéticos do espiritismo, condensado no Brasil na
pessoa de Chico Xavier. Meu magnetismo repulsor me impediu de vê-los.
Pelo que li, porém, penso haver pelo menos dois que posso citar por
possuírem, como o filme norteamericano, sérias pretensões
comerciais, o primeiro, inclusive, com aura de superprodução
hollywoodiana: “Nosso Lar” e “Chico Xavier”. Duvido que
filmes tão panfletários como esses dois brasileiros possam ser
assistidos por espectadores com convicções opostas às das
referidas obras, penso que esses, meu caso, simplesmente pensariam
que têm coisa melhor pra fazer ou assistir. Não é meu intento,
porém, conferir se o filme “Nosso Lar” conseguiu cobrir seu
custo calculado em R$ 20 milhões. Penso apenas que se alguém
decidiu conduzir uma empresa desse porte é porque identificou a
existência de um mercado, de um público consumidor em volume
suficiente para oferecer o desejado retorno. Se supostamente existe,
no caso do Brasil, público suficiente para uma produção com apelos
altamente comerciais e ao mesmo tempo propagandista e didática, se
existe um público que não se sente molestado pela catequese
espírita, o que dizer de “The tree of life”, cuja filosofia
religiosa é disseminada de modo bem menos
explícito, senão difuso e indireto? Sai o
didatismo, entra um show de imagens e sons espetaculares, mas a
representação do mundo com base transcendental permanece a mesma.
Se havia um público, ao que me parece, um grande, para o didatismo
prolixo e chato dos dois filmes brasileiros – ok, matem-me! Não vi
nenhum dos dois filmes citados acima, como não preciso, na minha
opinião, ler Paulo Coelho pra saber o que ele faz – tanto mais
fácil encontrar público para se deleitar com o
Pitt ou relaxar na poltrona do cinema durante os
extensos minutos ocupados pelas
suntuosas cenas exibindo o início dos
tempos na película de Malick.
A diferença reside na roupagem
que se oferece ao misticismo e no que ele passa a significar desde o
momento em que se insere no interior dessa roupagem que, por sua vez,
o traduz a quem quer que assista aos filmes. No caso do brasileiro
“Chico Xavier”, temos o próprio Chico Xavier, homem de aparência
bondosa, de voz efeminada, mansa e calma, morador de uma cidade do
interior mineiro. Em “The tree of life” temos Brad Pitt e Sean
Penn, que vivem respectivamente numa idílica casa modernista e numa
de design invejável. Alguma coisa mudou na roupagem do misticismo do
filme brasileiro para o estadunidense. Brad Pitt em sua iluminada
casa modernista – na verdade, mesmo sem ela – parece-me bem mais
legal que o senhor Xavier de Minas Gerais. O misticismo começa a ser
cool, substitui a cara do Chico Xavier pela do Brad Pitt, convive em
harmonia com interesses mais seculares como o interesse por
arquitetura e design, e mesmo o seu nome nos Estados Unidos faz
pensar em alguma coisa legal: criacionismo. Eu mesmo me deixei iludir
por esse nome no início dos anos 2000.
A
tristeza, pra mim, é que com a alteração da roupagem do
misticismo, constatei que um novo público, diferente daquele que
antes amara “Nosso Lar” e “Chico Xavier”, também é capaz de
amar “The tree of life”. Se o público de antes não me dizia
respeito e era formado por pessoas interessadas basicamente em cinema
mainstream, em entretenimento puro, por pessoas sem bons
conhecimentos literários ou filosóficos, o novo público que aceita
e aplaude o novo misticismo – veja exemplo de Cannes que ofereceu à
película a Palma de Ouro – é um do qual sou parte, constituído
por pessoas interessadas pelo cinema feito em todo canto do globo, e
com razoável informação de arte e de cultura erudita no geral.
Encontrei-me, de súbito, sozinho mesmo no interior desse grupo que
chamei acima de meu, porque o grupo amou “The tree of life” e eu
não. O filme ora me incomodou com seu grandiloqüente tom místico,
ora pareceu simplesmente desnecessário ou extenuantemente
contemplativo e arrastado.
O ponto em que insisto, porém, é apenas
o do tom religioso, razão da tristeza ou do desconcerto de que já
falo há algumas linhas: Como Cannes pôde não se incomodar com esse
tom ou julgá-lo no mínimo kitsch? Eu considerava que o mundo
pensante, – como imagino serem os visitantes de Cannes e ainda mais
os seus juízes – no qual me incluo com orgulho e legitimidade,
tendesse sempre a se posicionar em defesa de seus valores e em
oposição a uma representação metafísica do mundo. Nesse
raciocínio, eu esperava, portanto, simplesmente pela naturalidade
que esse pensamento me parece ter, que o mundo pensante se
incomodasse com obras que engrossam vozes opostas aos valores
cultivados pelos espíritos livres, mas não podia nunca esperar que
ele não apenas não se sentisse molestado como também aplaudisse e
premiasse tais vozes.
Entendo
o radicalismo desse meu pensamento, como entendo que o filme – para
além de toda sua filosofia transcendental – entrega imagens
espetaculares e a análise que um personagem já adulto faz de sua
vida em retrospectiva. Malick filma contemplativamente e com
iluminação sempre bonita atividades banais ocorridas na infância
desse personagem juntamente com seus irmãos. Entendo que as pessoas
podem estar aplaudindo essas coisas, apesar de eu não considerar
nada nessa obra especialmente bom ou profundo ao ponto de poder
justificar o prêmio em Cannes. De todo modo, meu interesse como
espírito livre defensor de sua voz solitária se resume a apenas
tentar entender como foi possível que essa obra fizesse tanto
sucesso e, dessa vez, inclusive entre os espectadores de cinema
semelhantes a mim, que não se sentiram, diferente de mim, entediados
ou molestados com sua filosofia metafísica. E a hipótese em que
apostei foi a do novo misticismo entregue numa roupagem fresca e
moderna, capaz de ser aceito inclusive pelo mundo que chamei aqui de
“pensante”. Paradoxal. Mas seria isso uma nova tendência?
Sábado
Chego, enfim, ao máximo baluarte, tradução personificada desse misticismo cool que identifiquei e nomeei essa semana após a série de coincidências – bom, também me foram necessárias, acho, intuição e sensibilidade para ser capaz de ler essas coincidências – que começaram na terça-feira com “Life in a day”, passaram por “The tree of life” e chegaram a ela, a papa do misticismo cool: Florence Welch, coração do Florence and the Machine. Como fã de música independente ou indie, como é geralmente chamada, cheguei tarde à Florence, bem depois que todos já a amavam, alguns realmente a amavam demais. Novamente meu magnetismo repulsor agindo silenciosamente? Não duvido.
Há cerca de seis meses decidi me entregar um dia ao trabalho de conhecê-la para descobrir se gostava ou não. Na época concluí que era uma personagem estranha e ambígua com o poder de unir elegância e poder fashion com músicas semelhanes a hinos religiosos. Não todas, claro, senão não existiria a ambiguidade, mas em certas letras a referência religiosa era tão explícita que simplesmente pensei que isso não fosse pra mim. Paralelamente, porém, fascinavam-me a teatralidade de Florence, o cálculo de seus gestos, seu jeito autoral de se vestir, sua relação íntima com a grife italiana Gucci, que a elegeu musa e passou a desenhar pra ela roupas exclusivas. No fim, incapaz de decidir quem ou o que era Florence, se era uma pastora disfarçada desejando fisgar um novo público com o logotipo da Gucci no anzol ou se as músicas tinham uma ironia acima do meu entendimento, desisti de solucionar o enigma, deixei de ouvir as canções que incomodavam minha irreligiosidade e passei a me concentrar no mesmo que todos: no poder fashion, na aura de diva, no aspecto teatral, épico e dramático das canções e apresentações. Ninguém parecia se importar muito com o misticismo da moça.
Seis
meses após ouvir a primeira música ou sábado passado fui a um
concerto da banda aqui na Alemanha. Acostumado aos concertos
independentes que visito para 200, 500 pessoas no máximo,
impressionei com o número de pessoas que esperavam na fila quando
cheguei para ampliá-la às 6:30 da noite: pelo menos duas mil. Ali
fiquei prensado entre os hipsters europeus, entre garotas que podiam
ser irmãs da Florence, prensado e respirando amargamente a fumaça
dos seus cigarros por uma hora e meia até todos entrarmos num
recinto coberto com espaço para quase 8 mil pessoas.
Pontualissimamente
às 8:00 começou o show de uma banda que nunca tinha ouvido falar e
que fazia o aquecimento e eu pensei essa é a Alemanha!, para logo
após sua apresentação me irritar por ter de esperar mais 40
minutos até que o palco fosse rearranjado para receber a mais atual
musa indie. Todos no meu entorno pareciam, no entanto, não se
agitar. Eu ali pensando que era problemático ir a um concerto assim
tão desapaixonadamente e ser capaz de analisar tudo com frieza
quando a presença que sobe ao palco me interrompe e reina sobre
todos, sobre mim. Florence sabe o que faz e faz bem. Tudo o que se
passou sobre o palco: gestos, frases, silêncios, expressões
faciais, efeitos de luz, projeções de imagens me pareceu totalmente
sob controle, bem pensado e calculado, nenhuma improvisação, nenhum
ato passional, nenhum gesto que não tivesse sido antes estudado,
nenhuma sombrancelha que se arqueasse involuntariamente e, no
entanto, tudo mais real que no teatro, mais intenso e emocionante.
Florence tinha carisma e os fãs colaboravam com ela, aceitavam seu
jogo, pulavam e cantavam como nunca aqui na Alemanha vi fazerem.
Antes da metade do show, durante a música que em casa sempre posso
evitar, a imagem que surgiu em minha mente me irritou um pouco,
lembrou-me do problema inicial que tive com a moça, seis meses
atrás, ao conhecê-la e perceber seu misticismo especialmente nessa
canção: toda a paisagem me lembrou dos, hoje detestáveis,
concertos de música gospel, no caso, da renovação carismática
católica, que visitei quando adolescente.
Não vi ninguém que parecesse, como eu, se entediar com o texto que dizia “Lord you've got the love I need to see me through”. Não, eles pareciam sim gostar de entoar esse mantra puxado do fundo da alma como se isso os fizesse bem, como se já sentissem o puro amor aconchegar sua alma, alguns quase berravam do meu lado. Tudo essencialmente idêntico ao que ocorria nos shows da Renovação Carismática Católica, com a diferença básica de que aqui o misticismo é abafado e intencionalmente esquecido porque supostamente há coisas bem mais interessantes acerca de Florence.
Não vi ninguém que parecesse, como eu, se entediar com o texto que dizia “Lord you've got the love I need to see me through”. Não, eles pareciam sim gostar de entoar esse mantra puxado do fundo da alma como se isso os fizesse bem, como se já sentissem o puro amor aconchegar sua alma, alguns quase berravam do meu lado. Tudo essencialmente idêntico ao que ocorria nos shows da Renovação Carismática Católica, com a diferença básica de que aqui o misticismo é abafado e intencionalmente esquecido porque supostamente há coisas bem mais interessantes acerca de Florence.
Comecei a pensar, porém, após minha experiência no concerto que não é possível escutar uma música como “You've got the love” e fingir que não há nada transcendental ali. Na verdade os fãs da moça não podem nem desejam fingir que não há nada religioso nela. Pelo contrário, cantam junto inclusive as músicas que mais me constrangem pelo teor místico com o mesmo fervor que conheci na igreja. Volto, portanto, à minha teoria sobre a roupagem em que o misticismo é entregue. Florence é um ícone fashion, é o rosto que a Gucci escolheu ter no ano 2012, cursou Artes na faculdade, ela não se parece com nenhuma pastora tradicional e chata tentando ser moderna e cool. Nem ela nem seus fãs são chatos, cafonas e sem informação de moda como os visitantes de encontros de jovens religiosos. Ela já possui desde seu surgimento um firme e irrevogável status cool, e seus fãs sabem de alguma forma inconsciente se beneficiar dele para melhorar suas próprias imagens. O problema, pra mim, é que o misticismo está aí, e os fãs de Florence, longe de serem poucos, o aceitam. O pessoal cool que esculacha a igreja e que ri da cafonice dos jovens carismáticos católicos aceita a mesma coisa que estes, como se o status cool de Florence tivesse o poder de transformar a religiosidade numa coisa legal, como se no final a religiosidade fosse perdoada pela Gucci. Novamente me vejo sozinho no interior de um grupo que eu pensava incluir pessoas bastante semelhantes a mim, que deviam, portanto, como eu, rejeitar o misticismo de Florence, que irrita meus pensamentos filosóficos, mas não parece fazer o mesmo aos meus companheiros de grupo. Será que o que estou chamando neste texto de “misticismo cool” é a nova tendência de representação do mundo entre as pessoas “pensantes” e que restei sozinho? Medo.
Todas as fotos do concerto são minhas. |
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