O antagônico
Quando o
namorado propôs que deixassem o quarto do hotel em Berlim,
argumentando que ia encontrar um antigo amigo que construíra uma
espaçosa casa à beira do Rio Spree e que os dois poderiam se
hospedar lá, onde era mais simpático e especial que o hotel, ele
disse que preferia voltar à casa. Tinha pouca vontade, senão medo,
de encontrar pessoas, de conviver. Mas isso último ele não disse,
os dois simplesmente sabiam.
O namorado
fez o check-out, ele fez sua mala, os dois foram à estação
central. O namorado comprou hortências, ele tomou o trem. Sem as
flores. Já na poltrona e com tempo, tentou entender por que decidira
voltar à sua fastidiosa cidade se era Berlim e não ela que amava.
Não conseguiu.
À caminho
de casa, puxando a mala pelos seis minutos que separam sua casa da
estação de metrô em que descera, e ouvindo as aves que certamente
viviam ali em número maior que o de pessoas, disse, provocador, a si
mesmo “provinciano, provinciano!” Não conseguiu, porém, se
irritar ou sentir mal com o xingamento.
Ao procurar
na mochila a chave para entrar no prédio, entendeu que estava
sozinho. Ao girá-la duas vezes para a esquerda, já no quarto andar,
instantes antes de passar pelo umbral da porta de entrada do seu
apartamento, sentiu um aperto no peito. Em casa, acendeu quase todas
as luzes: no escuro e na amplidão do apartamento, a solidão teria
muito espaço para existir. Ligou o computador, pôs música efusiva,
fez login no skype, conferiu se o telefone funcionava, imaginou estar
a abrir portais de comunicação pelos quais as pessoas poderiam
potencialmente se comunicar com ele. Não se entendia.
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